De tesouro a abrigo militar

Túneis e bunkers escondidos por Curitiba: histórias do subterrâneo

Túnel subterrâneo localizado na sede do Clube Concórdia, em Curitiba.
Túnel subterrâneo localizado na sede do Clube Concórdia, em Curitiba. Foto: Átila Alberti / Tribuna do Paraná.

Igrejas, construções históricas e edifícios comerciais em diversas regiões de Curitiba revelam histórias curiosas sobre a cidade. Porém, existe um lado invisível dessas construções que complementa o imaginário popular com lendas e teorias sobre um ado pouco conhecido da capital. Túneis, agens subterrâneas e porões com mais de cem anos de história despertam a curiosidade sobre as veias de Curitiba.

Durante as guerras mundiais, novas agens teriam sido construídas para garantir a locomoção de autoridades e do exército em caso de ameaças à segurança pública. No entanto, a magia dos túneis está nas teorias populares que surgem a partir dessas construções. A Tribuna encontrou alguns desses locais para investigar o que é real e o que é fantasia sobre o subsolo de Curitiba.

Tesouro de pirata

Segundo o pesquisador Marcos Juliano Ofenbock, a busca por agens subterrâneas na cidade começou no Bosque Gutierrez, no bairro Vista Alegre, motivada pela suspeita de um tesouro escondido na região. “No final do roteiro do tesouro da Ilha da Trindade, o Pirata Zumiro assinou Curitiba e colocou a data de 14 de maio de 1880. Começaram a pesquisar onde ele morava e surgiu a hipótese de que o local seria o bairro Mercês. Nessa época, descobriram os túneis e começaram a misturar as histórias”, explica Ofenbock.

Moradores do Mercês procuraram túneis na década de 70. Imagem: Arquivo/Gazeta do Povo

Os túneis encontrados na região datam do período das missões jesuítas em Curitiba, no século XVIII. Aproveitando o relevo da região e a proximidade de uma fonte de água, os jesuítas construíram uma caixa-forte subterrânea, que é uma das agens ainda conhecidas na cidade.

Túnel sob a Sede Concórdia do Clube Curitibano

Fundada em 1887, a Sede Concórdia do Clube Curitibano guarda um mistério tão antigo quanto sua própria estrutura. Instalada em um prédio histórico construído por imigrantes alemães, a sede abriga em seu subsolo um túnel ível por uma escadaria localizada em um dos salões.

Fechado à visitação pública, o local é mantido preservado graças ao trabalho contínuo da equipe de manutenção do Clube. O túnel tem cerca de 10 metros de extensão e é revestido com rocha e tijolos, materiais que compõem a fundação do edifício.

Embora sua função original não seja conhecida com exatidão, uma das hipóteses é a de que tenha feito parte de um antigo sistema de agens subterrâneas do Centro Histórico de Curitiba. A primeira conexão documentada seria com uma residência vizinha, situada nos fundos da Rua Duque de Caxias. Outra possibilidade é que o espaço tenha servido como armazém, utilizado para conservar mantimentos por longos períodos.

Ao lado do túnel, há uma estrutura subterrânea construída posteriormente, que funcionou como adega. Esse espaço pode ser visto do Salão do Restaurante do clube, por meio de um de vidro instalado no chão.

agens subterrânea em delegacia

No subsolo da Delegacia de Explosivos, Armas e Munições (Deam) da Polícia Civil do Paraná (PR), localizada na Rua Desembargador Ermelino de Leão, no bairro São Francisco, uma antiga agem subterrânea reforça a lenda dos túneis sob a região central de Curitiba. 

Durante a Ditadura Militar, o local funcionava como sede do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). No andar logo acima do túnel, ainda existem instalações que serviam como área de detenção, com três celas preservadas. Já o túnel faria ligação com o Museu Paranaense, que fica do outro lado da rua.

A estrutura é semelhante à encontrada no prédio da sede Concórdia. As paredes de alvenaria espessa, que lembram a construção de um bunker, reforçam a impressão de um espaço projetado para isolamento e segurança. 

Atualmente, o o à agem subterrânea está isolado por uma parede construída diante da entrada, isolando-a em compartimento cúbico. A estrutura só pode ser visualizada ao lado direito através de uma pequena janela na parede no final do corredor. Com sistema de segurança eletrônica reforçado, o espaço funciona hoje como depósito de armas e munições da PR.

Bunker do Colégio Estadual do Paraná

Cenário de lendas entre estudantes, o espaço subterrâneo onde hoje funciona a “Escolinha de Arte” do Colégio Estadual do Paraná (CEP) é outro desses locais em Curitiba. Utilizado como depósito e sala de aulas de artes, o local alimenta o imaginário popular que permite aguçar a imaginação dos estudantes, que já produziram até filme sobre as histórias.

Com paredes espessas de concreto, o espaço teria sido projetado para funcionar como um bunker (abrigo antiaéreo subterrâneo) durante a Segunda Guerra Mundial. A construção do colégio teve início em 1943, no auge do conflito. Há quem acredite que o abrigo possa estar conectado a outros pontos do Centro por túneis, embora não existam evidências concretas dessa ligação.

Abaixo do auditório, há salas com teto baixo e sem janelas que hoje abrigam as coxias do grupo de teatro da escola. Uma dessas salas chegou a ser usada como depósito para o piano do auditório, que descia do palco por meio de um sistema mecânico. Com as reformas recentes, o espaço perdeu essa funcionalidade, mas ainda integra a área subterrânea do colégio.

Porão da Santa Casa de Curitiba

Construído no século XIX, o Hospital Santa Casa de Curitiba, localizado na Praça Rui Barbosa, possui um porão. Seguindo o modelo das construções da época, o espaço foi originalmente destinado a armazenar produtos utilizados nas instalações do atual Museu da História da Medicina do Paraná.

Embora não tenha sido encontrada nenhuma conexão com outros edifícios no subsolo, existem teorias que sugerem a existência de agens subterrâneas que ligariam o hospital a outros pontos do Centro, como os antigos quarteis militares da região.

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